QUATI E TIPOS PSICOLÓGICOS


Teste Quati e os Tipos Psicológicos

 

         Quando o psicólogo realiza uma orientação vocacional, ele utiliza uma bateria testes de personalidade e aptidões. O teste Quati faz parte deste repertório e possui resultados bem interessantes, pois visa avaliar a personalidade através das escolhas situacionais que o indivíduo faz. Baseado nos tipos psicológicos de C.G.Jung, utiliza atitudes (foco de atenção), funções perceptivas (recebimento de informações) e funções avaliativas (tomada decisões) para construção de 08 tipos psicológicos, que veremos de forma mais detalhada no decorrer do artigo. Há 14 anos que aplico este teste e a sua simplicidade na aplicação e correção são pontos bastante positivos a se considerar. O teste possui 93 questões a serem respondidas apenas com as alternativas “A” e “B” e não existe restrição ao tempo, ou seja, o importante é que a pessoa chegue até o final do teste expressando. Possui reconhecimento pelo Conselho Federal de Psicologia, o que implica dizer que o teste é validado, porém, como todo teste de orientação vocacional, seu objetivo é dar um “norte” e não determinar o futuro das pessoas.


Os Tipos Psicológicos de C.G.Jung

         Em sua observação clínica, Jung constatou que os seres humanos, de um modo geral, se classificam em quatro tipos principais: pensamento, sentimento, sensação e intuição. Estes quatros tipos se subdividem em duas classes, a saber: racional (ou julgamento) e irracional (ou perceptivas). Na classe racional temos os tipos pensamento e sentimento e, na classe irracional, sensação e intuição. Esta classificação pode chegar a oito tipos diferentes, pois cada um deles pode assumir uma das duas atitudes da personalidade, introvertida ou extrovertida. Jung via na tipologia um instrumento crítico para o pesquisador que precisa de parâmetros definidos, mas sempre alertou para o fato que os tipos são tendências naturais dos indivíduos e que as atitudes podem mesclar-se em determinadas situações. Jung jamais pretendeu classificar os indivíduos em categorias rígidas, em tipologias fechadas, mas traçar um norte de orientação para uma observação primeira sobre as tendências individuais, e também a possibilidade do tipo poder mudar ao longo da vida.
  
       Vamos analisar cada uma delas, separadamente.

Sensação, a função dos sentidos. A descreve como sendo a soma total das percepções do indivíduo a fatos externos, acessados através dos sentidos. A sensação permite dizer que alguma coisa é, e não o que é, nem qualquer outra particularidade da coisa em questão.

Pensamento - dirá o que a coisa é . Esta função é a que dá nome às coisas e adota conceitos e classificações; pois para quem é de tendência ao pensamento, pensar é perceber e julgar.

Sentimento.  É o que nos informa, através de uma carga emocional, acerca do valor das coisas. É ele que nos diz se determinada coisa é agradável ou não, aceitável ou não. Ele nos diz o que é de valor através de certa carga emocional e sentimental.

Intuição - Aquele “palpite” que temos sobre determinado acontecimento, aqueles pensamentos que nos rondam e que se confirmam posteriormente. Pelo fato de este “pressentimento” ter lhe dado antes à mente e confirmado logo após é o que faz a intuição relacionar-se com o tempo.

Assim, de forma resumida, pode-se dizer que a sensação diz que alguma coisa é, o pensamento exprime o que ela é, o sentimento exprime-lhe o valor e a intuição antecipa o sentido de suas possibilidade. Ou seja, a sensação é a percepção através dos órgãos físicos dos sentidos, o pensamento refere-se ao processo de conhecimento intelectual, o sentimento cria valores e julgamentos subjetivos e a intuição refere-se à percepção através do inconsciente.
        
As funções são tendências humanas aonde cada tipo se inclina conforme seu foco de atenção e adaptação ao meio. Isto, contudo, não impede que as funções possam ser utilizadas simultaneamente, mas, pelo contrário, sabe-se que elas por si só não são capazes de ordenar as experiências do nosso próprio eu ou do mundo ao qual vivemos; é na inter-relação entre elas que encontraremos uma possibilidade maior de compreensão. Diz Jung : “Para uma orientação completa, todas as quatro funções devem contribuir igualmente: o pensamento deve facilitar a compreensão e o julgamento, o sentimento deve dizer-nos como e em que medida uma coisa é ou não importante para nós, a sensação deve nos transmitir a realidade concreta através da visão, da audição, do gosto, etc., e a intuição deve capacitar-nos a adivinhar as possibilidades ocultas no fundo das coisas, uma vez que também essas pertencem ao quadro completo de uma dada situação”.


Na mobilidade da atenção, Jung percebeu que existe na personalidade humana duas tendências de focalização da consciência: uma voltada mais aos objetos e a outra para si mesmo. A partir destas observações introduziu na psicologia os conceitos de introvertido e extrovertido. De forma bastante resumida, descreveremos os dois tipos:

Tipo Introvertido

São os indivíduos que dirigem sua energia psíquica com mais intensidade para o mundo interior; por esta razão o sujeito é o fator primário da motivação e o objeto assume importância secundária. Comportam-se abstratamente e estão basicamente sempre preocupados em retirar a libido do objeto como a prevenir-se contra um super poder do objeto. Seu mundo particular torna-se um castelo de extrema segurança, fechado aos olhares curiosos. Podem se tornar pessimistas e preocupados, porque o mundo e os seres humanos não são nem um pouco bondosos com ele, mas sim o esmagam... Neste sentido, é capaz de desvalorizar as coisas e as outras pessoas, negando sua importância. Daí, por via de compensação, a introversão extrema poder levar a um reforço inconsciente da influência do objeto. Esta se faz sentir como uma amarra, com as concomitantes reações emocionais em relação às circunstâncias externas e às outras pessoas. Diz Jung: “A liberdade de pensar do indivíduo está restringida pela ignomínia de sua dependência financeira, sua liberdade de ação treme diante da opinião pública, sua superioridade moral desmorona face ao marasmo das relações inferiores, e sua vontade de domínio finda em um lastimável desejo de ser amado. É o inconsciente que agora cuida da relação com o objeto e o faz de modo destinado a levar à completa ruína e ilusão de poder e a fantasia de superioridade.”

         Os introvertidos menos extremistas são simplesmente aqueles que optam por uma vida mais simples, longe das multidões, satisfazendo-se com poucas amizades e realizando as coisas normalmente de forma independente e ao seu próprio modo. “Esta retirada para dentro de si mesmo não é uma renúncia definitiva ao mundo, mas uma procura de quietude, pois somente nela lhe é possível fazer sua contribuição à vida da comunidade,” conclui Jung.

Tipo Extrovertido

Como podemos esperar o tipo extrovertido orientará sua energia em direção ao mundo exterior, ao objeto em detrimento ao sujeito. Diz Jung: “A extroversão caracteriza-se pelo interesse ao objeto externo, pela responsabilidade e pela pronta aceitação dos acontecimentos externos, pelo desejo de influenciar e de ser influenciado pelos acontecimentos, pela necessidade de aderir e de ‘estar com’, pela capacidade de suportar o alvoroço e todo tipo de barulho e considerá-los até agradáveis, pela constante atenção dada ao mundo circundante, pelo cultivo de amigos e de relações nem sempre escolhidos com cuidado e, finalmente, pela grande importância atribuída à imagem com que nos mostramos.” As normas e éticas do extrovertido geralmente possuem uma natureza altamente coletiva, expansiva e sua consciência é, em grande parte, influenciada pela opinião pública. A vida psíquica do extrovertido é fortemente influenciada pelas reações do meio ambiente, dos aspectos culturais e temporais, que acabam por conduzir seus comportamentos. Quando os costumes mudam, ele se ajusta aos padrões do meio, mas isto pode se tornar tanto uma força quanto uma limitação. Uma atitude extrovertida muito acentuada resulta no sacrifício de si mesmo, com a finalidade da realização de suas exigências objetivas, pois o objeto nunca tem valor suficiente para ele e, por isso, é necessário aumentar sua importância e a quantidade.

Combinação dos Tipos


Além das funções psicológicas analisadas - pensamento, sentimento, sensação e intuição – temos as atitudes - introvertidos e extrovertidos-, resultando, desta forma, em uma combinação de oito tipos. Analisemos alguns deles para que possamos ter uma noção mais aprofundada da questão.

O Indivíduo com predominância de Pensamento Extrovertido é aquele que utiliza a informação fornecida ao cérebro pelos órgãos dos sentidos. O objeto ocupa papel predominante em seus processos  mentais e, por isso, é do tipo que procura explicar nos seus minuciosos detalhes, por exemplo, como uma semente germina e cresce até se transformar numa planta, ou como a água se transforma em vapor quando é aquecida, etc. Ele é do tipo mais pragmático ou prático e um  grande solucionador de problemas. É personificado pelo cientista que dedica toda a sua energia a aprender tudo o que pode a respeito do mundo exterior. Não é do tipo que consegue expressar de forma clara seus sentimentos - pois seu forte é o pensamento- e normalmente o reprime, e por isso pode dar aos outros a impressão de ser impessoal ou mesmo frio e altaneiro. Quando reprimido pode se tornar um indivíduo autocrático, fanático, presunçoso, supersticioso e impermeável à crítica.

Os indivíduos do tipo Pensamento Introvertido trazem consigo uma capacidade de reflexão mais subjetiva. Em vez de formular pensamentos extraídos exclusivamente do mundo exterior, ele refletirá a respeito das questões que lhe chegam. Se satisfaz imensamente em lidar com as idéias por elas mesmas e se produz uma investigação apoiando-se nos objetos do mundo exterior é porque está em busca da confirmação de suas idéias. Seu pensamento se dirige para o centro, para o Self, ou o si mesmo. É o filósofo ou psicólogo existencial que procura compreender a realidade de seu próprio ser. Pode transmitir a imagem de um indivíduo distante e frio devido ao pouco valor que atribuirá às pessoas e aos acontecimentos que ocorrem ao seu redor. Tem uma forte  tendência a se tornar um indivíduo obstinado, teimoso, desrespeitoso, arrogante, irritadiço, inabordável e convencido. Com a intensificação desse tipo, o pensamento se torna mais sujeito a sofrer as influências anormais e fantasiosas da reprimida função do sentimento.

        No tipo em que ocorre uma predominância de Sentimento Extrovertido  encontramos pessoas governadas por critérios externos ou objetivos. Os padrões adotados devem estar em conformidade aos padrões tradicionais estabelecidos pela sociedade. Este tipo encontra-se com mais frequência entre as mulheres que, de forma generalizada, subordina o pensamento ao sentimento. São capazes de mostrarem-se caprichosas porque seus sentimentos variam com a mesma frequência com que variam as situações. A mais insignificante mudança na situação pode provocar uma alteração em seus sentimentos. Neste tipo encontramos as pessoas efusivas, emocionais, exibicionistas e instáveis. São capazes de criarem laços fortes com outras pessoas, mas esses laços são transitórios e um amor facilmente pode se transformar em ódio. Seus sentimentos são convencionais e se dispõem com muita presteza a adotar as últimas modas e excentricidades. Quando a função do pensar é fortemente reprimida, os processos do pensamento são primitivos e pouco desenvolvidos.

         Indivíduos com predominância Sentimento Introvertido são aqueles suscitados por condições internas ou subjetivas, particularmente pelas imagens primordiais oriundas dos arquétipos. Como essas imagens tanto podem ser oriundas dos pensamentos como dos sentimentos, a predominância dos primeiros tem como resultado pensamentos introvertidos, enquanto a predominância dos últimos tem como resultado sentimentos introvertidos. São pessoas originais, incomuns, criativas, e por vezes, bizarras, porque elas se afastam das convenções. Este tipo é também mais habitualmente encontrado entre as mulheres, e são aquelas que escondem do mundo seus sentimentos e tendem a serem silenciosas, inacessíveis, indiferentes e inescrutáveis. Apresentam com frequência um aspecto melancólico ou deprimido, mas também podem dar a impressão de possuir uma harmonia interior, tranquilidade e auto-suficiência.  Parecem aos demais dotados de um misterioso poder ou carisma.  Tem sentimentos profundos e intensos que irrompem de quando em quando em tempestades emocionais que deixam atônitos parentes e amigos.

         O tipo Sensação Extrovertido é determinado pela natureza da realidade objetiva com que se defronta. As percepções representam diretamente os objetos, são fatos do mundo exterior. São realistas, práticos e obstinados, mas não tem nenhum interesse particular pelo significado das coisas. Aceitam o mundo tal como é, sem lhe conceder muitos pensamentos e previsões. São sensuais, amantes do prazer, mas com sentimentos superficiais. Vivem em função das sensações que podem extrair da vida.

         As pessoas tipo Sensação Introvertido são aquelas onde as percepções são fortemente influenciadas pelos estados psíquicos, como se elas parecessem emergir de um ponto qualquer no interior da psique.
         Os tipos com predominância Intuição Extrovertido busca descobrir a possibilidade de toda situação objetiva e está continuamente à procura de novas possibilidades nos objetos externos, e por isso passa de um objeto a outro. É do tipo que pula de uma situação a outra a fim de descobrir novas possibilidades no mundo exterior, mas sem nunca satisfazer-se. Está sempre em busca de novos mundos antes mesmo de ter conquistado os outros. Magoam os outros involuntariamente por sua falta de interesse contínuo. Arrumam passatempos que logo os aborrecem e suas relações normalmente são instáveis.
  
       O tipo Intuição Introvertido é aquele que investiga a possibilidade dos fenômenos mentais particularmente as imagens oriundas dos arquétipos e, nesta lógica, passa de imagem para imagem.


Alberto Maury
Psicólogo e Diretor do Instituto Órion


Para saber mais :

A Vida Simbólica. C.G.Jung. Ed.Vozes


Tipos Psicológicos. C.G.Jung. Ed.Vozes